terça-feira, 11 de março de 2014

Marivaldo apaixonado

Venho lhes contar a história de Marivaldo.

Marivaldo vive em um reino feudal, mais precisamente na cidade da Bahilândia. Uma cidade muito bonita, agradável e aconchegante.

Marivaldo desde cedo demonstrou um interesse e uma paixão avassaladora por mulheres. Ficava entusiasmado em ver seu pai e seus tios discutindo sobre qual era a mais bela. Sua mãe dizia que ele era muito novo para fazer parte daquilo, mas quando fosse um pouquinho mais velho ele poderia flertar com alguma mulher e quem sabe ir à casa dela vê-la dançar.

Somente uma coisa incomodava Marivaldo: o fato de segundo seu pai ele só ter direito a se apaixonar pelas mulheres da cidade, Vitorina e Bahiberana.

Ele se questionava, afinal existiam tantas mulheres bonitas no mundo... Por que se limitar a Vitorina e Bahiberana ? Não que elas fossem feias, longe disso. Eram bonitas até. Moças de família. A Vitoriana era mais responsável, atualmente era a mais paquerada da cidade. Bahiberana era mais periguete, charlava com seus pretendentes e eles pareciam mais apaixonados ainda por ela. Um caso estranho, por sinal.

Enfim, Bahilândia era uma pequena cidade e por isso se passava muito na TV sobre as mulheres das outras províncias. Marivado até uns 12 anos ainda pensava em para quem ele iria se declarar. Apesar de só terem duas candidatas na cidade, ele não se sentia apaixonado por nenhuma delas.

- É, acho que vou ficar pra titia. Ambas são até são bem formosas, porem eu quero mais. Quero amar alguém – Falava o garoto para os amigos.

Até que um dia ensolarado ele estava entediado e resolveu assistir TV. Como sempre, várias mulheres dançando na telinha. Ele achava todas interessantes, mas nenhuma especial. Porém, em certo momento ele achou um canal que transmitia ao vivo a dança de uma mulher de outra cidade e desconhecida para ele.

Aquela garota era diferente de tudo o que ele já tinha visto. Ela dançava com uma graça e uma leveza de espantar. Claro que ela também tinha muitos pretendentes, mas Marivaldo não ligava. Na real, ele só ficava mais encantado, porque queria descobrir o que aqueles homens enxergavam nela. Marivaldo ficou por 90 minutos imóvel na frente da TV. Ele sabia que ela era a mulher dos seus sonhos, foi amor a primeira vista.

No dia seguinte ele foi contar ao seu pai sobre sua paixão. Seu pai logo o repreendeu e disse que não poderia ser verdade.

- Quem mora na Bahilândia tem que se apaixonar por Bahiberana ou Vitorina !! – Argumentava para seu filho.

Aparentemente o que Marivaldo queria não importava, mas tudo bem. Ele não ligava, afinal achava que seus amigos iriam entender.

Mas não entenderam também.

Repetiram e repetiram tudo o que seu pai já havia lhe dito antes, que ele só poderia se apaixonar por uma mulher de sua cidade. Que aquelas forasteiras era tudo alienação da mídia em sua cabeça.

Marivaldo tentou se afastar de sua amada. Toda vez que a via na TV, mudava prontamente de canal e tentava se concentrar nas moças de sua cidade.

Não adiantava.

Ele só pensava naquela garota da TV. Ah... Aquela mexia com seu coração que até então nunca tinha sido cativado. Marivaldo passou a assistir as escondidas às danças da moça estrangeira. Em um verão qualquer, após passar o ano inteiro sem dançar direito, ela acabou se desequilibrando e caiu ao vivo para todo o Brasil ver.

A moça estrangeira chorou ao vivo.

Marivaldo chorou junto.

Seus amigos vieram em sua direção para zua-lo, perguntando se aquela mulher que tinha acabado de cair ao vivo na TV era seu verdadeiro amor. Marivaldo estava triste, sem saber explicar o que sentia. Uma espécie de vazio por dentro. Mas ele ao contrário do que seus amigos imaginavam, defendeu seu amor. Parecia que a afeição havia aumentado de vez e ele queria gritar para os quatro cantos do mundo o quanto queria a Corínia para si.

Marivaldo não poderia pegar na mão dela para que se levantasse, porém não deixou de apoia-la e incentiva-la. Todas as terças e sábados a via dançar. Torceu, torceu e torceu. Ela conseguiu se levantar e ambos comemoraram. Ela tinha vários pretendentes e s trata todos iguais, ela sabe que é muito bela para ser de um só.

A partir daquele momento Marivaldo passou a não se importar de vez com as regras de sua cidade. Ele não abandonou as meninas do seu município, de vez em quando as vê dançar e espera que elas sejam muito felizes na sua vida. Quando ele as vê passar na rua, tanto Ba, tanto Vi, ele dá um abraço, um beijo na bochecha e vai embora para sua casa ligar a TV para ver seu único e verdadeiro amor dançar.  

Ele sabe que não faz tanto sentido assim. Mas quando o perguntam, apesar de Marivaldo odiar frases prontas, ele somente canta um pedaço de uma canção que ele acha bacana:


Quem irá dizer que existe razão pelas coisas feitas pelo coração?