Venho lhes contar a história de Marivaldo.
Marivaldo vive em um reino feudal, mais precisamente na
cidade da Bahilândia. Uma cidade muito bonita, agradável e aconchegante.
Marivaldo desde cedo demonstrou um interesse e uma paixão
avassaladora por mulheres. Ficava entusiasmado em ver seu pai e seus tios discutindo
sobre qual era a mais bela. Sua mãe dizia que ele era muito novo para fazer
parte daquilo, mas quando fosse um pouquinho mais velho ele poderia flertar com
alguma mulher e quem sabe ir à casa dela vê-la dançar.
Somente uma coisa incomodava Marivaldo: o fato de segundo
seu pai ele só ter direito a se apaixonar pelas mulheres da cidade, Vitorina e
Bahiberana.
Ele se questionava, afinal existiam tantas mulheres bonitas
no mundo... Por que se limitar a Vitorina e Bahiberana ? Não que elas fossem
feias, longe disso. Eram bonitas até. Moças de família. A Vitoriana era mais responsável,
atualmente era a mais paquerada da cidade. Bahiberana era mais periguete,
charlava com seus pretendentes e eles pareciam mais apaixonados ainda por ela.
Um caso estranho, por sinal.
Enfim, Bahilândia era uma pequena cidade e por isso se passava
muito na TV sobre as mulheres das outras províncias. Marivado até uns 12 anos
ainda pensava em para quem ele iria se declarar. Apesar de só terem duas
candidatas na cidade, ele não se sentia apaixonado por nenhuma delas.
- É, acho que vou ficar pra titia. Ambas são até são bem
formosas, porem eu quero mais. Quero amar alguém – Falava o garoto para os
amigos.
Até que um dia ensolarado ele estava entediado e resolveu
assistir TV. Como sempre, várias mulheres dançando na telinha. Ele achava todas
interessantes, mas nenhuma especial. Porém, em certo momento ele achou um canal
que transmitia ao vivo a dança de uma mulher de outra cidade e desconhecida
para ele.
Aquela garota era diferente de tudo o que ele já tinha
visto. Ela dançava com uma graça e uma leveza de espantar. Claro que ela também
tinha muitos pretendentes, mas Marivaldo não ligava. Na real, ele só ficava
mais encantado, porque queria descobrir o que aqueles homens enxergavam nela. Marivaldo
ficou por 90 minutos imóvel na frente da TV. Ele sabia que ela era a mulher dos
seus sonhos, foi amor a primeira vista.
No dia seguinte ele foi contar ao seu pai sobre sua paixão.
Seu pai logo o repreendeu e disse que não poderia ser verdade.
- Quem mora na Bahilândia tem que se apaixonar por
Bahiberana ou Vitorina !! – Argumentava para seu filho.
Aparentemente o que Marivaldo queria não importava, mas tudo
bem. Ele não ligava, afinal achava que seus amigos iriam entender.
Mas não entenderam também.
Repetiram e repetiram tudo o que seu pai já havia lhe dito
antes, que ele só poderia se apaixonar por uma mulher de sua cidade. Que
aquelas forasteiras era tudo alienação da mídia em sua cabeça.
Marivaldo tentou se afastar de sua amada. Toda vez que a via
na TV, mudava prontamente de canal e tentava se concentrar nas moças de sua
cidade.
Não adiantava.
Ele só pensava naquela garota da TV. Ah... Aquela mexia com
seu coração que até então nunca tinha sido cativado. Marivaldo passou a
assistir as escondidas às danças da moça estrangeira. Em um verão qualquer,
após passar o ano inteiro sem dançar direito, ela acabou se desequilibrando e
caiu ao vivo para todo o Brasil ver.
A moça estrangeira chorou ao vivo.
Marivaldo chorou junto.
Seus amigos vieram em sua direção para zua-lo, perguntando
se aquela mulher que tinha acabado de cair ao vivo na TV era seu verdadeiro
amor. Marivaldo estava triste, sem saber explicar o que sentia. Uma espécie de
vazio por dentro. Mas ele ao contrário do que seus amigos imaginavam, defendeu
seu amor. Parecia que a afeição havia aumentado de vez e ele queria gritar para
os quatro cantos do mundo o quanto queria a Corínia para si.
Marivaldo não poderia pegar na mão dela para que se
levantasse, porém não deixou de apoia-la e incentiva-la. Todas as terças e sábados
a via dançar. Torceu, torceu e torceu. Ela conseguiu se levantar e ambos
comemoraram. Ela tinha vários pretendentes e s trata todos iguais, ela sabe que
é muito bela para ser de um só.
A partir daquele momento Marivaldo passou a não se importar
de vez com as regras de sua cidade. Ele não abandonou as meninas do seu município,
de vez em quando as vê dançar e espera que elas sejam muito felizes na sua
vida. Quando ele as vê passar na rua, tanto Ba, tanto Vi, ele dá um abraço, um
beijo na bochecha e vai embora para sua casa ligar a TV para ver seu único e
verdadeiro amor dançar.
Ele sabe que não faz tanto sentido assim. Mas quando o
perguntam, apesar de Marivaldo odiar frases prontas, ele somente canta um
pedaço de uma canção que ele acha bacana:
Quem irá dizer que existe razão pelas coisas feitas pelo
coração?